Ansiedade porque o mercado de transporte ferroviário de mercadorias tem como objetivo para este ano, bem como para os próximos anos, continuar a aumentar a quota modal da ferrovia face à rodovia, indo ao encontro dos objetivos de descarbonização para o setor dos transportes definidos pelo Governo português, independentemente das circunstâncias.
No entanto, entramos em 2024 com notícias que penalizam este objetivo, confrontados com um aumento da taxa de uso de infraestrutura para este ano e para o próximo, com uma infraestrutura transformada num estaleiro de obras em todos os seus eixos, penalizando fortemente as operações dos operadores ferroviários, num contexto de aumento de custos em várias áreas relevantes, como os combustíveis, para os quais o governo ainda não cumpriu com apoios financeiros prometidos para minimizar os seus efeitos e sem haver capacidade de absorção pelos operadores de todos estes custos e perdas de sinergias.
Não faz sentido privilegiar um modo de transporte face aos demais, ainda por cima penalizando o modo de transporte mais sustentável.
Ansiedade, porque, pelo contrário, a concorrência modal recebeu ao longo do tempo um conjunto de apoios, de forma regular e repetida, que lhe permite manter a sua competitividade, o que cria uma situação de concorrência desleal. Não faz sentido privilegiar um modo de transporte face aos demais, ainda por cima penalizando o modo de transporte mais sustentável.
Estes temas são relevantes para a competitividade da ferrovia, que precisa que as obras em curso terminem, porque a ferrovia depende de uma rede de qualidade, com capacidade de canal e necessita de disponibilidade de serviço para ser uma alternativa, mas que tem vida para lá do investimento em infraestruturas, e para o qual é necessário contar com a atenção, a visão e o empenho de quem está no Governo. Caso contrário, podemos ter uma infraestrutura ótima, mas vazia e sem comboios.
Enquanto operadores ferroviários, torna-se imperativo continuarmos a prestar um serviço de qualidade elevada, com criatividade na disponibilização de soluções que satisfaçam a necessidade dos nossos clientes, num contexto adverso e complexo, porque necessita de ser competitivo.
Esperemos que no decurso deste ano se tomem as decisões necessárias para ser possível aumentar a competitividade da ferrovia e ela ser vista como uma real alternativa para a operação logística das empresas e famílias portuguesas, contribuindo assim para o crescimento económico do país, para o alavancamento das exportações nacionais, de uma forma fiável e sustável.
Miguel Rebelo de Sousa – artigo de opinião publicado no Transportes & Negócios